Micaretas



-E aí, cara? Fechou Ivete, Domingo? Já ta no 3º lote, tem que comprar logo.
Depois de recorrentes perguntas sobre meu interesse em ir a diversas micaretas que vinham acontecendo, embora eu nunca tenha ido a uma dessas e demonstrado qualquer interesse, peguei-me a questionar se esse agrupamento de jovens com camisetas coloridas e iguais, para beijos gratuitos ao embalo de música baiana, seria uma grande ‘virose’ do tipo:- se você ainda não pegou, vai pegar ou algo do gênero.
Respondendo a pergunta a cima, disse ao colega de faculdade.
-Não cara, não vou não, na verdade não tenho a mínima vontade de ir nesse lance.
E ele argumentou dizendo das inúmeras pessoas que poderiam ser beijadas, do pula pula, a corda do siri ou do caranguejo e do fantástico trio elétrico em movimento, das lindas músicas de bola de sabão e que levantam a poeira.
Já não de hoje que, navegando distraído na internet, vejo muitos sites, flogs, fotologs mostrando imagens de pessoas em inúmeras festas desse tipo, todos lindinhos, ‘iguaizinhos’ sorridentes, felizes e beijoqueiros.
Com certeza você conhece alguém que já foi a uma dessas, um vizinho, colega, tio, filho da amiga, está se igualando ao desemprego, a gente está à beira disso, sempre conhece alguém que foi ou que vai.
Lembro-me da época que esse tipo de manifestação era restrito ao carnaval baiano, dos famosos trios do pelourinho e farol da barra, onde creio, seria válido, dentro do contexto ‘festa da carne’ toda essa gratuidade de ‘pegação’, zoação,liberdade,bebedeira (teoricamente) exclusivos desse período.
Mas a coisa se expandiu, veio para diversos, senão todos, os estados do Brasil, em todos os cantos, todo final de semana, não importa em qual época do ano, lá está a massa reunida novamente, sem cansar, pulando novamente, sobrepondo até mesmo as festas regionais, de quadrilhas a exposições agropecuárias e rodeios.
De janeiro a janeiro esse tipo de evento acontece com suas repetitivas bandas para no final a galera contabilizar as cantadas, as bocas beijadas, fazendo o balanço desse pseudo-investimento.
Aaahhh, sim, sem não contar no valor pago, ou investido?Bom..., Quanto antes comprar melhor, começando por míseros 50 reais que aumentam gradativamente, na hora então? Parece final de campeonato brasileiro, cambistas fazem a festa para lhe vender essa ‘camiseta-ingresso’, que depois vira camiseta mesmo, enfim, tem que mostrar que foi, conferiu e zoou, e não perderia um show desses (embora no mês seguinte o mesmo grupo se apresente, ate mais próximo de sua residência), e o que adianta viver sem divulgar que viveu?
Estava pensando, até em contrapartida a esses chatos convites, fazer um ‘abadá’ com um misto de imagens dessas bandas, num efeito onde elas fossem uma só, e uma singela frase, assim como do Rock in Rio: ?? MICARETAS, eu não fui?? - e nem quero ir, pois diferente da galera ‘eclética’, eu gosto de algumas coisas e não gosto, definitivamente, de outras tantas.
Falar em Rock in Rio, um evento desses por ano seria de bom tom a nós, ‘os que nunca foram a micaretas’.
18-06-2006

Comentários

  1. "Vai passar nessa avenida um samba popular,cada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai
    se arrepiar... E um dia, afinal tinham direito a uma alegria fugaz uma ofegante epidemia que se chamava carnaval o carnaval, o carnaval" (Vai Passar - Chico Buarque). Penso que determinadas coisas/eventos vc deve ver ou mesmo frequentar, nem que seja uma vez, somente para vislumbrar o fato sobre a sua ótica, até porque sabes que o olho do observador interfere no objeto observado, rs... Quero elogiar novamente este, post muito bem escrito retratando de forma natural o contemporâneo. Parabéns mancebo!! Continue porque o caminho é este. Ventura sempre.

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  2. Manobrou nas palavras ein filho...

    aguardo ai o próximo.. q possivelmente poderia ser um conto de natal.. rsrsrs

    Abração meu camarada

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  3. Hugo
    Estou com você. Nunca fui a uma Micareta. Ainda que tenha achado em alguns pontos de teu texto um "Q" moralista, não faço patrulhamento. E sou como vc. Tem coisas que gosto, outras que não. Abraços!

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